Apresentação

Bem-vindos ao curso “TICs em ambientes educacionais” do encontro USP Escola.

[Se está chegando agora para a edição de 2020 do curso, cadastre-se no Ambiente Virtual de Aprendizagem do curso e volte aqui.]

Cada vez mais as tecnologias da internet permeiam as nossas vidas, inclusive as nossas vidas profissionais. Desta ubiquidade decorre uma demanda por problematização e um anseio de discutir boas práticas no uso de TICs em ambientes educacionais. Neste curso discutiremos tecnologias educacionais como Ambientes Virtuais de Aprendizagem, o uso de redes sociais ou Wikipedia na educação ou recursos educacionais abertos.

Ter uma competência numa área é ter conhecimentos, ter habilidades e ter atitudes. Conteúdo, saber usar e motivação. Além de apresentar ferramentas, também é preciso discutir boas práticas no uso de TICs na escola: como usar e quando usar.  Só porque é possível implementar algum processo educacional por meio de, digamos, algum serviço online acessível via celular, não quer dizer que devemos necessariamente usar esta ferramenta com nossos alunos, no nosso contexto. Com cada ferramenta apresentada, vamos também associar questionamentos como eficácia, equidade e considerações éticas como privacidade.

O curso é organizada em torno dos seguintes temas:

  • Competências Digitais
  • Aprendizagem colaborativa mediada pela Internet
  • Ambientes Virtuais de Aprendizagem
  • Recursos Educacionais Abertas
  • Mídia Social e Redes Sociais

Cada período terá  uma apresentação curta, seguido por atividade práticas abordando os conceitos tratados. Terá dois períodos de “Oficina Moodle” (o AVA mais usado no Brasil). Clique aqui para um planejamento mais detalhada.

Procuraremos abordar cada tema ou tecnologia em três níveis de análise: do ponto de vista da adoção (ou acesso), a forma de uso e seus efeitos políticos (usando a palavra política no seu sentido amplo).

No primeiro nível de análise estudamos a adoção e difusão de uma tecnologia. Você e seus alunos teriam acesso? A seguir, procuramos entender as possibilidades (pedagógicas) que uma tecnologia pode proporcionar, para poder tomar uma decisão informada se e sobretudo como vamos usar ou não a tecnologia nos ambientes de aprendizagem que estamos desenhando. Finalmente, focamos em letramento digital, a capacidade de  avaliar criticamente as novas ferramentas, mídias e as plataformas que as hospedam, indo além da questão instrumental de como usar.

Por exemplo: argumentaremos que Wikipedia é um recurso didático interessante. É preciso saber da existência do Wikipedia (acesso), é preciso saber usar e é preciso saber quando é apropriado usar e de que forma. Além disso, como veremos, é preciso avaliar como o conteúdo de Wikipedia foi construído e se este processo pode levar a conteúdo enviesado de alguma maneira.

Objetivos e Programa

O curso faz parte  do Encontro USP-ESCOLA, um evento que reúne cursos de atualização para professores de diversas disciplinas do ensino médio, com temas e abordagens diversificadas, procurando responder a demandas atuais da escola básica. Com isso, pretende-se não apenas propiciar a atualização de conhecimentos, como também a troca de experiências entre as vivências e práticas educacionais de professores e as diferentes propostas desenvolvidas na USP.

Objetivos

Apresentar aos participantes ferramentas e conceitos na área de Tecnologia Educacional, com ênfase na tecnologias online e da Web; apresentar o uso de ambientes “virtuais” de aprendizagem (AVA); apresentar os princípios e prática da tecnologia moderna de gerenciamento de informação e conhecimento, no contexto de ambientes educacionais; usar ferramentas colaborativas em rede e estudar as suas aplicações no Ensino; prover as ferramentas analíticas necessárias para tomar decisões técnicas e de política na área de tecnologia de informação e comunicação no contexto de instituições educativas.

Público Alvo

Professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

Programa

Ferramentas colaborativas mediado por internet e seu uso com fins educativos; Ambientes Virtuais de Aprendizagem; Objetos de Aprendizagem; Recursos Educacionais Abertas; Mídia Social e Redes Sociais na Educação.

Bibliografia

Michael Moore e Greg Kearsley, Educação a Distância (EaD): Uma Visão Integrada (Thomson Heinle, 2007): Uma visão muito abrangente do ensino à distância, em todas as suas formas. Muito útil para contextualizar as ferramentas que veremos nesta disciplina.

Terry Anderson, The Theory and Practice of Online Learning, 2nd edition (Athabasca University Press, 2008), disponível online em http://www.aupress.ca/books/Terry_Anderson.php: um livro prático, escrito por acadêmicos e profissionais ativos na área de Tecnologia Educacional (em inglês).

A.W. (Tony) Bates, Teaching in a Digital Age (Tony Bates Associates Ltd 2015), disponível online em https://opentextbc.ca/teachinginadigitalage/.

Competências digitais

Em debates sobre TICs na escola é comum ouvir as seguintes duas afirmações (erradas, ou pelo menos exageradas, ao meu ver):

  1. Existiriam  “nativos digitais” e “migrantes digitais”. Os primeiros, nascidos depois dos anos 80 conhecem tecnologias digitais profundamente e naturalmente obtiveram as habilidades necessárias para usá-las.
  2. Estes jovens requeriam ambientes educacionais adequados aos seus estilos de aprendizagem diferenciada das gerações anteriores. Os professores, migrantes digitais,  precisam ser capacitados para adquirir as competências em TICs necessários para usar as novas metodologias.

O conceito “nativos digitais” está associado a um artigo que Marc Prensky escreveu em 2001. Vamos fazer uma busca no Google Acadêmico (clique o link,  abrirá em nova aba). Há 23 mil citações, refletindo a enorme influência que o texto teve.  Se quiser, leia o artigo original, clicando no título para ir no site da editora ou no link para o PDF no Academia.edu,  uma rede social onde acadêmicos compartilham seus trabalhos.

Mas na comunidade acadêmica há dúvidas sobre o conceito.   “The ‘digital natives’ debate: A critical review of the evidence” é uma análise crítica das bases empíricas das afirmações acerca dos chamados “nativos digitais”. O artigo está atrás do “muro de pagamento” da revista, mas o próprio Google Acadêmico aponta para uma versão disponível livremente.

A conclusão deste artigo crítico é que

… as pesquisas acerca das relações de jovens com tecnologia mostram  um quadro muito mais complexo que a caracterização “nativos digitais” sugere. Embora tecnologia é ubíquo na vida deles, o uso e habilidades é distribuído altamente desigualmente. […] Não há evidências […] de um estilo de aprendizagem diferente.

A minha impressão, baseado na minha experiência com meus alunos é que , de fato, jovens tem muita facilidade de usar tecnologias como consumidor, mas sem noção boa como funciona a infraestrutura que está por trás das aplicativos e serviços que usam. Não é surpreendente que sabem usar tecnologia, que afinal é feito para amigável e fácil de usar. Mas a maioria não tem competência em TICs de forma plena, numa perspectiva de competências como não somente saber usar ou acessar as TICs, mas também ser capaz de avaliar criticamente e se apropriar das possibilidades das tecnologias para criar algo de forma autônoma, independente das intenções do vendedor.

Algumas Habilidades Digitais

Considero os seguintes habilidades essenciais para meu trabalho com tecnologia educacional. Algumas, como as de segurança, me parecem essenciais para qualquer cidadão. Outras, como saber criar um site, compartilhar documentos ou arquivos, são especialmente úteis para educadores.

Internet

  • Não confundir a Internet ou a Web com Facebook ou Google ✅
  • Saber explicar a diferença entre a Internet e a Web
  • Qual é aproximadamente o caminho de uma mensagem entre sua casa e os servidores do Facebook?
  • Entender jargão como “servidor”, “a Nuvem”

A Web e Navegadores

  • Interpretar as partes de um URL
  • Passar um URL a um colega ✅
  • Baixar uma imagen da Internet
  • Abrir links em nova Aba (pesquisa eficiente) ✅
  • Navegar entre Abas
  • Baixar uma imagem do Google Images
  • Baixar um vídeo do youtube
  • Fazer uma captura de tela (“print”) ✅
  • Extensões do seu navegador ✅
  • Colocar um arquivo grande na Web e compartilhar
  • Colaborar via um um documento compartilhada ✅
  • Criar um site informativo ✅

Celulares

  • Desligar notificações de Apps específicos ✅
  • Fazer captura de tela (“print”)
  • Enviar mídia para outro computador
  • Compartilhar foto ou vídeos
  • Instalar Apps
  • Interpretar permissões da App

Segurança

  •  Fazer gestão de senhas
  •  Entender trafego “seguro” e https
  •  Autenticação de 2 fatores ✅

Tracking

  • O significado de janelas privadas ✅
  • Entender “Cookies”
  • modelos de negócios de Google, Facebook, Apple, Amazon
  • Adblockers e o que são e porque usar (recomendo ublock Origin) ✅

Exercícios e Atividades propostas

Busque por seu nome no Google. Se tiver um Android, acesse https://history.google.com/ e procure seu Histórico de Localização (em “Outra atividade do Google”)

Se cadastre num serviço grátis de criação de sites e começa criar uma página  simples com um perfil público (o que faz, hobbies). Cuidado de não publicar informações como endereço, telefone.  Ou, começa criar uma página do seu bicho de estimação (exemplo). Sugestões de serviços grátis de criação de espaços na Web: WordPress.com, Wix, Weebly, Google Sites.

Entre na sua conta do Facebook, Google e Microsoft, descubra onde ficam as configurações de privacidade e revise-as. Para Facebook, este artigo pode ser útil.

Instale um “Adblocker” no seu Navegador. Sugiro não usar Adblock+ e sim usar uBlock Origina (o Adblock + está agora sendo comercializada deixando passar algumas propagandas de empresas que pagam por isso).

Configure autenticação de dois fatores em uma das suas contas. A sua conta de email é um forte candidato (outros serviços usam seu email para recuperar senhas).

Material e Links complementares

Assiste este vídeo educativo do NIC (parte do CGI, a organização não-governamental ou “multi-stakeholder” responsável pela governança da internet no Brasil) sobre a tecnologia por trás da Internet, redes de “comutação por pacotes”:

Tecnologia Educacional

Letramento Midiático

No documento “Media and information literacy curriculum for teachers” (tradução em português), a Unesco fez uma tentativa de esclarecer o que significa o termo letramento midiático

Fonte: Unesco, "Media and information literacy curriculum for teachers"
Uma matriz curricular de Alfabetização de Mídia e Informação para formação de professores

Vamos analisar esta matriz curricular com calma. Para seis áreas de interesse do professor o diagrama explicita o que quer dizer competência no uso, avaliação e criação de mídia.  Os três componentes de uma competência (as colunas) são : conhecimento (conhecer a existência de mídias e informação, saber onde achar), avaliação (saber diferenciar qualidade ou confiabilidade mídia e fontes de informação) e a produção (a capacidade de re-usar ou criar informação e conteúdos). Das 6 áreas, para fins deste curso vamos focar sobretudo nas competências em mídia e informação (ou TICs em geral) aplicado a Pedagogia (processos de aprendizagem) e a produção  de material didático.

Um fracasso de Letramento Midiático?

Após a eleição de Trump, as pesquisadora de novas mídias danah boyd escreveu um texto interessante.

O viés de Google e outros algoritmos

Obtemos muitas informações hoje em dia via algoritmos, ao vez de via intermediários humanos. Os resultados de uma busca no Google é um  exemplo. Facebook escolha os posts que vê no seu timeline via um algoritmo (muitas pessoas não sabem, mas Facebook não mostra todos os posts que seus contatos  ou páginas que deu “like” compartilharam).

Seria um erro pensar que por ser gerado por algoritmo estes resultados seriam “objetivos” ou mais confiáveis em princípio que um humano poderia gerar.

Um  exemplo interessante é o do tradutor automático do Google, que  funciona muito bem (veja um  artigo explicando a engenharia por trás) mas que reflete os vieses da sociedade. Veja a tradução de quatro frases em inglês:

Como vê, a expressão neutra “a nurse” foi traduzido para o feminino “a enfermeira” mas “a doctor”, igualmente neutro, foi traduzido para “um médico”.